sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Gravitação universal

é lei.
a lua atrai
o mar que incondicionalmete
morre na beirinha da praia,
aos pés do casal abraçado que anda
enquanto
ele fala
e ela nada,
do bêbadovômitogarrafa,
e do cachorro
que despretensioso,
observa, mija
e sacode a pata.

sábado, 29 de setembro de 2007

O reflexoxelfer O

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

os franceses de Quebec são tão franceses quanto os pentelhos do meu pau.




no entanto, de que me importa Quebec?

domingo, 2 de setembro de 2007

Poema do Cacto

Havia um cacto em minha varanda. vida estranha essa de cacto. sempre indiferente, de poucos amigos. de textura áspera e tardia. de um verde esquivo, quase não-verde, nãoseiquê.
Nunca recebia muita atenção, nem mesmo precisava. era cirurgicamente independente em seus não-gestos. pouca água pouca água, quase gotas somente. porém não era despersonalizado, havia algo em seu existir. talvez amplitude do observar. talvez dormência.
Duvidei da sua estrutura. parecia gesso desprovido de vasos, clorofila ou qualquer substância orgânica que lhe configurasse vida. estranha beleza quieta, sua indiferença magnética atraía meu olhar. por vezes num sobressalto percebia: Era um Cacto! e existia. e tentava -Vamos, reaja, exista!.
Nunca encontrei ressonância. sua linguagem era apática e lenta. e surda.
Numa tarde de um janeiro quente, tarde aleatória, encontrei o Gato um tanto ferido com cara de culpa e preocupação, ferido por espinhos. no chão, próximo à janela da qual nunca pretendera sair, estava o Cacto em pedaços, como gesso, porém não o era. era vivo. agora fragmentos.
Apanhei-o respeitosamente.
Pasmo percebi o por-do-sol da janela que não era minha. era dele, do Cacto. e a vida da cidade inexistente, suas gentes invisíveis de trajetos automáticos. e o mar... imponente, esse sim existia.
Naquele instante meus olhos-de-cacto viram o que ele via. o movimento singelo do mar... e, talvez como o Cacto, senti ânsia de ser Alga-Marinha.
E boiar.
boiar...
boiar...

domingo, 26 de agosto de 2007

Comando
o exército de algum
N
ad
a
enfadonho,
de
mil versos
apáticos
refletindo
histórias
no
fundo
do meu
C
op
o
plástico.

domingo, 19 de agosto de 2007

então...
o que você acha de passear na ponte e beber um pouco de gim?
eu topo...
agora é o seguinte...
as pessoas vão estranhar um pouco nossa presença no meio da ponte...
os carros podem buzinar.
mas quem liga...?
me dá um cigarro...?
bom... não gosto dessa marca... mas esse frio tá de rachar os ossos..
então... vamos?
Silêncio.
ao som de goles e tragos...
os dois corpos caminham perdidos pela noite...
adentrando e perdendo-se.
até que um assobia uma canção...
Come to me my melancholy
bella...
deixa as pessoas tão inexistentes e in love with the blue
a cada nota do piano.
parece que a noite acolhe os corpos solitários
os gatos da noite.
dispersam-se.
cada um engolido por seu próprio assobio e passos
separam-se sem perceber...
engolidos pelo mesmo ciclo que destrói e constrói relações há mais tempo que o tempo linear consegue comportar.
então onde estão os macacos e os peixes mortos sob essa ponte suja e abandonada...?
iluminada por faróis de automóveis afundados na lama por 3 mil anos.
onde a brisa trás poeira intergaláctica e uma raça de alienígenas sedenta por mucosas nasais penetra nas gargantas causando tosse e tísica.
ninguém mais diz 33.
33
33
todos os pulmões estão escavados e infiltrados...
e a uréia já não mais é eliminada.
todos nós somos amarelos.
envenenados por nosso próprio mijo
e pela poeira espacial.
um gole da garrafa
o gim tem gosto de ácido.
corrói a língua e os dentes do mundo.
banguelos chupam pica embaixo da ponte...
e comem os olhos daqueles afogados
olhos milhões...
fodem todos os buracos oculares.
gozam diretamente no cérebro reativando sinapses adormecidas
eletricistas cerebrais.
fodam-se
fodem-se
fodam.
as bocetas reavivadas através do esperma santo engolem o limo e limpam todo o sumo nojento do fundo do rio..
um balé sincronizado em nome da ecologia.
mas são barradas por (eco)ativistas políticos acusadas de engolirem toda a fauna remanescentes.
uma delas, reacionária, engoliu um ativista.
e arrotou.
cuspindo uma estrela.
e milagrosamente institucionalizou uma religião.
e guerras em seu nome.
e tudo isso por causa de um ativista e uma boceta.
entediado o gato senta-se no meio da ponte...
toda aquela movimentação era tão desnecessária
esforçando-se um pouco ele consegue entrar na garrafa e fecha a tampa.
engarrafado e conservado, lança-se ao rio e tenta alcançar sociedades humanamente possíveis.
o gato engarrafado que nunca deveria ter saído do seu telhado.

domingo, 12 de agosto de 2007

morri de amor. meus últimos cruzados, todos dados ao cego que tocava uma bela melodia nostálgica. acarinhei a um cão magro que me abanou o rabo e mordeu-me a mão, de fome.
Todos têm fome. Eu engoli minha cabeça sentado no sofá vermelho de fronte a paredes brancas muito frias, cuja brancura, fazia reverberar a frieza em meu intestino. nem os cigarros nem as pessoas eram merecedores de amor. somente o gim e o meu havia acabado.
Todos têm fome. Eu engoli o metal gelado e atirei contra o céu
da boca. cem flores cranianas fizeram da parede, muito branca e fria, uma paisagem surrealista.
morri de amor... próprio. engoli minha cabeça e do meu estômago romperam mil borboletas que se espalharam pelo mundo.
(06/06)