domingo, 19 de agosto de 2007

então...
o que você acha de passear na ponte e beber um pouco de gim?
eu topo...
agora é o seguinte...
as pessoas vão estranhar um pouco nossa presença no meio da ponte...
os carros podem buzinar.
mas quem liga...?
me dá um cigarro...?
bom... não gosto dessa marca... mas esse frio tá de rachar os ossos..
então... vamos?
Silêncio.
ao som de goles e tragos...
os dois corpos caminham perdidos pela noite...
adentrando e perdendo-se.
até que um assobia uma canção...
Come to me my melancholy
bella...
deixa as pessoas tão inexistentes e in love with the blue
a cada nota do piano.
parece que a noite acolhe os corpos solitários
os gatos da noite.
dispersam-se.
cada um engolido por seu próprio assobio e passos
separam-se sem perceber...
engolidos pelo mesmo ciclo que destrói e constrói relações há mais tempo que o tempo linear consegue comportar.
então onde estão os macacos e os peixes mortos sob essa ponte suja e abandonada...?
iluminada por faróis de automóveis afundados na lama por 3 mil anos.
onde a brisa trás poeira intergaláctica e uma raça de alienígenas sedenta por mucosas nasais penetra nas gargantas causando tosse e tísica.
ninguém mais diz 33.
33
33
todos os pulmões estão escavados e infiltrados...
e a uréia já não mais é eliminada.
todos nós somos amarelos.
envenenados por nosso próprio mijo
e pela poeira espacial.
um gole da garrafa
o gim tem gosto de ácido.
corrói a língua e os dentes do mundo.
banguelos chupam pica embaixo da ponte...
e comem os olhos daqueles afogados
olhos milhões...
fodem todos os buracos oculares.
gozam diretamente no cérebro reativando sinapses adormecidas
eletricistas cerebrais.
fodam-se
fodem-se
fodam.
as bocetas reavivadas através do esperma santo engolem o limo e limpam todo o sumo nojento do fundo do rio..
um balé sincronizado em nome da ecologia.
mas são barradas por (eco)ativistas políticos acusadas de engolirem toda a fauna remanescentes.
uma delas, reacionária, engoliu um ativista.
e arrotou.
cuspindo uma estrela.
e milagrosamente institucionalizou uma religião.
e guerras em seu nome.
e tudo isso por causa de um ativista e uma boceta.
entediado o gato senta-se no meio da ponte...
toda aquela movimentação era tão desnecessária
esforçando-se um pouco ele consegue entrar na garrafa e fecha a tampa.
engarrafado e conservado, lança-se ao rio e tenta alcançar sociedades humanamente possíveis.
o gato engarrafado que nunca deveria ter saído do seu telhado.

4 comentários:

Laís disse...

Viajei muito, muito bom!

Poeta impar disse...

a culpada é a garrafa!

o menos há esperanças vãs.

Unknown disse...

limpar o fundo da ponte às vezes não funciona. sempre tem que haver um pouco de limo por lá. pra ninguém esquecer os defeitos, inclusive os próprios.

Unknown disse...

(até o gato)